“Subitamente Ega parou:
– Ora aí tens tu essa Avenida! Hem?… Já não é mau! Num claro espaço rasgado, onde Carlos deixara o Passeio Público, pacato e frondoso – um obelisco, com borrões de bronze no pedestal, erguia um traço cor de açúcar na vibração fina da luz de Inverno (…) E ao fundo a colina verde, salpicada de árvores, os terrenos do Vale de Pereiro, punham um brusco remate campestre àquele curto rompante de luxo barato – que partira para transformar a velha cidade, e estacara logo, com o fôlego curto, entre montões de cascalho.”
in Os Maias, Eça de Queirós, 1888
O Passeio Público pombalino e romântico dera lugar ao boulevard imaginado por Rosa Araújo e executado pelo Engenheiro Ressano Garcia. A construção da nova avenida, inserida num plano mais vasto de melhoramentos na capital, foi um projecto arrojado e contestado. E só comparável à reconstrução da cidade no pós-terramoto de 1755.
Abrir e expandir a cidade para norte num eixo viário ousado, terminando numa rotunda com o fim de distribuir a nova cidade para outros pontos, o plano foi também uma enorme operação urbanística e imobiliária. A construção foi em grande parte financiada pela venda de terrenos a grandes capitalistas que aí edificaram os seus palacetes de gosto eclético.
A Avenida da Liberdade, inicialmente pensada como local residencial para uma elite lisboeta, vai perdendo esse cunho quando se torna numa avenida de serviços, escritórios, comércio e animação. Restam ainda alguns dos palacetes que saíram do risco dos arquitectos Nicola Bigaglia ou Henri Lusseau. Edifícios de arquitectura eclética eivada de revivalismos resistem ainda à descaracterização que a Avenida sofreu a partir dos anos 40.
Precisamos de voltar a parar na Avenida e demorar o olhar sobre uma história rica de mais de 150 anos e que não se esgota só na estatuária ou no edificado. Falta fazer a história social da Avenida, ponto de encontro de refugiados durante a 2ª guerra mundial, dos antigos cafés, teatros, cinemas e clubes nocturnos.
Eis a nova proposta de visita guiada da HLX, “Do Passeio à Avenida”.