Museu de Dermatologia: Um museu de arrepiar a pele

3 Dedos de conversa

Escondido no Hospital dos Capuchos existe um pequeno museu de arrepiar a pele - o Museu de Dermatologia.

O museu de dermatologia passa um bocadinho despercebido. O horário de visita não é o mais convidativo e o seu nome não nos diz grande coisa. No entanto, o Museu da Dermatologia Portuguesa Dr. Sá Penella merece, sem a menor sombra de dúvida, uma tarde do nosso tempo. Segundo as palavras de um amigo, uma única visita ao museu equivale a todas as campanhas de prevenção em torno das doenças sexualmente transmissíveis realizadas entre os anos 80 e a actualidade.

O Museu de Dermatologia

Criado em 1955, o museu reúne um conjunto de 266 figuras de cera que demonstram as diferentes lesões cutâneas provocadas por acidentes, doenças como o cancro e, talvez as mais impressionantes, as doenças provocadas pelas doenças venéreas. As peças provêm do serviço de dermatologia do Hospital dos Capuchos, outras do Hospital do Desterro.

Sala do Museu de Dermatologia
Estante Museu da Dermatologia

A colecção do Hospital dos Capuchos foi executada por Joaquim Barreiros (professor da Escola de Belas Artes que foi também escultor na Vista Alegre) e o pintor Albino Cunha. É possível que os mesmos artistas tenham contribuído também para a colecção do Hospital do Desterro, mas existem dúvidas quanto à autoria de várias peças desta colecção.

As peças foram realizadas a partir de pacientes que chegavam ao hospital, sendo obtido um molde em gesso da lesão cutânea. Deste molde, as peças em cera eram trabalhadas e pintadas segundo os pigmentos da pele de tal forma realista que impressionam o visitante. 

Ceroplastia

A ceroplastia nasceu em Itália, em pleno Renascimento. Fruto da necessidade de demonstrar aos alunos de medicina as diferentes lesões na superfície cutânea, fruto também dos tabus religiosos e éticos na utilização de corpos humanos para o ensino da anatomia. 

Esta técnica tornou-se um instrumento importante na divulgação científica e académica, com um grande pendor didáctico durante o século XIX. As lesões provocadas pela sífilis, particularmente na área genital, quando demonstradas em peças de cera, rompiam com o pudor da época e providenciavam o necessário distanciamento do paciente para o seu estudo. 

Estas peças em cera caíram em desuso com a generalização da fotografia a cores. 

Imagem de Pormenor de lesões sifilíticas
Pormenor de lesões sifilíticas

Sífilis

As peças são também um excelente contributo para o estudo histórico da sífilis. A doença, registada na Europa pela primeira vez em 1495, é transmissivel por contacto sexual e pode afectar diferente órgãos e atacar o sistema nervoso.

O nome sífilis advém de um poema do século XVI da autoria do médico italiano Girolamo Fracastoro. O poema descreve como o pastor Syphilus insultou o deus Apolo e foi por isso castigado com uma terrível doença que provocava boubas – esta designação era atribuída a uma grande variedade de lesões sifilíticas.

Actualmente, graças ao tratamento através de antibióticos, a doença raramente tem oportunidade de se manifestar da forma como se foi registada nos períodos anteriores.

Imagem com lesões provocadas pela sífilis
Lesões provocadas pela Sífilis

A sífilis é um dos temas abordados na visita “A Cidade e a Doença


ONDE: Hospital de S. António dos Capuchos

Contato: 21 351 4410 Marcação de visitas: sec.adm.capuchos@chlc.min-saude.pt

Horário: Aberto apenas na quarta-feira, das 14.00 às 17.00