Terá sido por amor ou por traição que Edward VIII abdicou do trono? A nossa sugestão de leitura é o livro de Andrew Lownie O Rei Traidor e recordamos a passagem por Portugal dos Duques de Windsor em Julho de 1940.
O Duque, anteriormente conhecido como Edward VIII, rei de Inglaterra, tinha abdicado do trono em 1936, tendo o seu reinado durado apenas 326 dias. A razão indicada nas biografias oficiais e fazendo parte do folclore associado à família real britânica, aponta a sua relação amorosa com a americana Wallis Simpson como a a razão da abdicação: por amor, Edward renegou o trono para casar com a mulher que amava.
Embora a vontade de casar com Wallis Simpson tenha sido o motor da abdicação, diversos historiadores investigaram as ligações de Edward à Alemanha Nazi, enquanto Príncipe de Gales e, principalmente, após a sua abdicação e afastamento da casa real. Um desses historiadores é Andrew Lownie que expôs os seus argumentos na obra recentemente traduzida para português e publicada pela Casa das Letras com o título O Rei traidor: o escandaloso exílio do duque e da duquesa de Windsor.
No livro, Lownie aponta diversos testemunhos das inclinações pró-nazis de Edward, enquanto príncipe e durante a década de 1930, chegando a referir mesmo que o Número 10 via o futuro rei como um risco de segurança para o país. A relação de Edward e Wallis antes da abdicação foi alvo de vigilância e os receios não se limitavam apenas ao estatuto de Wallis como uma mulher duplamente divorciada. As simpatias de Wallis e relações de proximidade com elementos do regime alemão eram frequentemente registadas como fonte de preocupação.
Esta preocupação em torno dos duques de Windsor mantém-se após a abdicação com a visita do casal à Alemanha em 1937, sendo fotografados com Hitler. Com o início da Guerra e o exílio dos duques em França, as suspeitas em torno do potencial risco de segurança aumentam.
Com a ocupação de França, os duques viajam até Madrid, onde se instalam no hotel Ritz, local considerado um importante centro para os serviços secretos alemães. Para Inglaterra, tornava-se cada vez mais urgente que os duques abandonassem a capital espanhola, dada a presença de agentes alemães naquela cidade. É neste contexto que o casal chega a Portugal.
A passagem por Portugal dos Duques de Windsor em Julho de 1940 e a estadia na casa da família de Ricardo Espírito Santo em Cascais mereceram um capítulo no livro, no qual são desvendados os pormenores de um possível acordo entre o duque de Windsor e o regime nazi e, na sequência do insucesso do mesmo, a possibilidade de raptar o duque em plena Lisboa, naquilo que ficou conhecido como operação Willi.
Lownie aponta Espírito Santo como um agente alemão e faz diversas alusões às comunicações enviadas pelo embaixador da Alemanha em Portugal, Barão Oswald von Hoyningen-Huene, a Joachim von Ribbentrop, depositando plena confiança no banqueiro português. Os serviços secretos ingleses concordavam também com esta ligação, atribuindo a Espírito Santo o nome Holy Ghost.
Tanto o acordo entre o duque de Windsor e a Alemanha, como a operação Willi caem por terra e os Duques abandonam o país a 1 de Agosto de 1940 rumo às Bahamas, tal como pretendia o primeiro-ministro inglês, Winston Churchill.
A passagem dos Duques de Windsor por Portugal e as suas relações com os serviços secretos alemães são alguns dos episódios a que fazemos referência na nossa visita Lisboa entre Refugiados e Espiões no próximo dia 23 de Julho.