O Outono chegou e as nossas visitas guiadas continuam entre um calor ainda estival e as primeiras folhas caídas que anunciam a nova estação. Antecipando a visita do próximo domingo, Lisboa à Espanhola, deixamos as nossas sugestões para Ler, Ouvir, Ver e Visitar em torno de uma Capital de Impérios e de Relíquias.
Lisboa: Capital de impérios
A Ler
A propósito da Igreja de São Roque e da nova exposição temporária, recomendamos a leitura sempre actual do romance A Relíquia de Eça de Queiroz. Publicado em 1887, o leitor é conduzido pelas figuras cativantes de Teodorico Raposo e da sua “titi” Patrocínio, numa viagem entre Lisboa e a Terra Santa. No regresso à capital, Teodorico oferece uma relíquia trazida de Jerusalém, “… e ante os olhos extáticos surgiu o sacratíssimo embrulho de papel pardo, com o seu nastrinho vermelho. – Ai que perfume! Ai, ai, que eu morro! – suspirou a titi a esvair-se de gosto beato…”.
A Ouvir
Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, Meditação do Duque de Gandia sobre a morte de Isabel de Portugal
D. Francisco de Borja, Duque de Gandia, foi fiel servidor e estribeiro-mor da Imperatriz Dona Isabel (filha de D. Manuel I, esposa do Imperador Carlos V e mãe de Filipe II de Espanha/I de Portugal). Após a morte da imperatriz, impressionado com o desaparecimento de uma senhora de tão rara beleza e de grande inteligência, terá jurado nunca mais servir a outro, retirando-se para uma vida de reclusão.
A Ver
Na visita Lisboa à Espanhola, damos a conhecer o cortejo solene que trouxe até à Igreja de São Roque uma das maiores doações de relíquias do mundo a esta comunidade jesuíta. O doador foi D. João de Borja (relação familiar com o papa Bórgia e Lucrécia Bórgia; o apelido hispânico de Borja daria origem ao apelido italiano Borgia), filho de São Francisco de Borja (Duque de Gandia, que abandonaria a vida terrena após a morte da Imperatriz Isabel de Portugal). Foi embaixador de Filipe II na corte de Rudolfo II da Saxónia, adquirindo aqui os relicários; inicialmente tinha pensado doar ao Escorial mas acabaria por fazer a doação a São Roque. Fará da Igreja o seu local de sepultura.
A Visitar
Durante a Idade Média e no tempo das cruzadas, a vinda de relíquias daria origem a novas rotas de peregrinação. Com Carlos Magno e a furta sacra de relíquias, a Europa cristã constrói mitos e tesouros em volta da existência física e material de santos, santas e mártires que intercedem entre Deus e os pecadores, dando-lhes esperança na vida eterna. O culto será largamente impulsionado pela Companhia de Jesus. Recomendamos a nova exposição patente na galeria de exposições do Museu de São Roque, Relíquias? O projeto reliquiarum. A Igreja de São Roque tem a terceira maior colecção de relíquias no mundo.