Nesta visita guiada atrevemo-nos a falar mais dos artistas do que ideologias e artificialização de avenidas a servir um discurso político.
A Estatuária da 7ª Colina
No primeiro itinerário – O Caminho das Estátuas I – reflectimos sobre a monumentalização forçada do eixo Parque Eduardo VII – Avenida da Liberdade, em prol de um discurso educacional da população, condizente com o regime então em vigor – educar pela arte.
As formas artísticas – escultura figurativa – foram escolhidas por comissões municipais ou estatais, aplicando-se os cânones saídos da Exposição do Mundo Português (1940). Os escultores agraciados pelo Estado Novo e a edilidade tinham poucos rasgos de originalidade, saindo uma obra, em geral, contida nas formas. Era preciso dar trabalho a “rapazes com talento” diria António Ferro.
Neste Caminho das Estátuas II – a Sétima Colina (expressão de José-Augusto França) a estatuária é, na sua grande maioria, evocativa de homens (a figura feminina é secundária, quando existe é apenas um acessório alegórico) que a 1ª República quis homenagear em co-relação com o espaço escolhido. A nova toponímia republicana irá homenagear algumas mulheres mas sem estátuas.
Esta é uma das leituras possíveis no que concerne à estatuária pública nesta colina. Outra linha de leitura, formal e estilística, prende-se com a disparidade de obras dos mesmos autores. Antes da “normalização” que os anos 40 trouxeram e com as derivações figurativas e abstractas dos anos 80, 90 e 2000.
Evocações entre o fim da Monarquia e a 1ª República
Entre a inauguração da estátua equestre do rei D. José I (Machado de Castro, 1775) e a estátua do poeta Luís de Camões (Victor Bastos, 1867) existiu um hiato de quase cem anos sem estatuária exterior, civil e laica.
A produção escultórica era ainda grandemente destinada aos interiores das capelas, igrejas e conventos, em geral, de espaços religiosos. O Liberalismo e o Romantismo serão as duas forças que irão despoletar novas escolas e novos artistas que deixariam de estar dependentes de encomendas reais ou religiosas. Para tal contribuiu a fundação da Academia de Belas-Artes no antigo convento de São Francisco.
A laicização da arte, agora ao serviço de intenções políticas dos homens do Liberalismo, entra em modo intermitente, embora com mais vigor na 2ª metade do século XIX e até com algum anacronismo, como foi o caso do monumento ao Duque de Saldanha (1909). Os projectos para edificação de monumentos aos heróis do Liberalismo são praticamente coevos do regime liberal que logo em 1821 quis prestar homenagem ao rei D. Pedro IV. No entanto estas homenagens dilataram-se no tempo, entre concursos e atrasos, sendo erigidas quase cinquenta anos após as decisões governamentais.
A passagem para a República será mais voraz no apagamento de lembranças monárquicas, com as vereações republicanas a decretar nova toponímia na cidade e, por vezes, com a colocação de estátuas ou placas comemorativas dos Homens e dos feitos do novo regime.
A palavra aos Artistas!
Neste percurso iremos dar destaque a aspectos biográficos e formativos dos escultores do séculos XIX e XX. Faremos uma leitura das escolas e tendências que marcaram o século XIX na escultura e as rupturas, se as houve. De Machado de Castro a Teixeira Lopes, de Barata Feyo a Lagoa Henriques.
Contaremos histórias e curiosidades acerca das estátuas e dos seus criadores. Deixamos aqui um enigma: que relação existe entre o escultor Francisco dos Santos, o futebol nacional e internacional e a República? Não deixaremos de abordar as polémicas em torno de algumas estátuas, dos seus anacronismos e dos debates que originaram entre meios académicos, políticos e civis.
Apareçam no dia 30 de Outubro, 09h30 no Jardim França Borges ao Príncipe Real.